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Zodíaco de Dendera

Datado do século I a.C., trata-se do único zodíaco conhecido de tipo circular, através do qual podemos entender a conceção egípcia do céu noturno. Antes de ser levado para Paris em 1822, decorava o teto da capela de Osíris no Templo de Hathor, em Dendera.

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Zodíaco de Dendera no Musée du Louvre (Sala 325, Ala Sully, Nível 0) 

 

Descoberto em 1821 durante uma das campanhas de Napoleão, o Zodíaco de Dendera foi retirado do Templo de Hathor entre Abril/Maio de 1821, chegando a Paris em Janeiro de 1822. É posteriormente adquirido por Luís XVIII e exposto no Louvre, a Junho do mesmo ano. No Templo de Hathor foi deixada uma cópia após a retirada do original. 

Capitel com a face da deusa Hathor proveniente de Dendera (Sala 325, Ala Sully, Nível 0) | Peter Harholdt, Musée du Louvre

Datado do século I a.C., trata-se de um planisfério circular de arenito, esculpido em baixo relevo, no qual está expressa a conceção egípcia do céu noturno. Antes de ser retirado do Templo de Dendera – estrutura consagrada à deusa Hathor, patrona do amor, da felicidade, da dança e da fertilidade – era parte da decoração do teto da capela de Osíris.  

O Zodíaco de Dendera é o único exemplar conhecido do tipo circular, sendo que o mais correto seria apelidá-lo de «planisfério».

É uma peça de extrema importância, uma vez que oferece a possibilidade de conhecer, aproximadamente, a posição das principais constelações que, em finais da Época Ptolemaica, eram vistas pelos observadores do Nilo.
(Lull, 2007: 27)

Teto da capela nº 2 do Templo de Hathor | José Lull retirado de S. Cauville. (1997) Dendara. Les chapelles osiriennes. IFAO

Neste a abóbada celeste é representada sob a forma de um disco solar sustentado por quatro deusas de pé – personificação dos pilares do Céu, associadas a cada um dos quatro pontos cardeais – e oito seres ajoelhados com cabeça de falcão.

Pormenor das deusas e seres com cabeça de falcão que sustentam a abóbada celeste no Zodíaco de Dendera |  Christian Décamps, Musée du Louvre

No centro figuram

  • as constelações circumpolares (Ursa Maior, Ursa Menor, Dragão, Cassiopeia, Ophiuchus, Auriga, etc.);
  • os 12 signos do zodíaco (Carneiro, Touro, Gémeos, Caranguejo, Leão, Virgem, Balança, Escorpião, Sagitário, Capricórnio, Aquário, Peixes);
  • e cinco planetas visíveis a olho nu (Mercúrio, Vénus, Marte, Júpiter, Saturno),  facilmente identificáveis, uma vez que junto de cada um surge o respetivo nome em hieróglifos. 

Teto da capela nº 2 do Templo de Hathor | José Lull retirado de S. Cauville. (1997) Dendara. Les chapelles osiriennes. IFAO

 

O anel exterior que rodeia as figuras centrais é percorrido por um grupo de divindades a desfilar para a direita, simbolizando 36 decanatos horários. 

 

Possível identificação das figuras representadas na peça | José Lull retirado de S. Cauville. (1997) Dendara. Les chapelles osiriennes. IFAO

 

O Zodíaco de Dendera é uma clara expressão da influência dos conhecimentos astronómicos gregos e babilónicos, uma vez que os egípcios assimilaram algumas das suas constelações, especialmente as zodiacais.

Os egípcios incorporaram o máximo número possível de “novas” constelações adaptando a iconografia estrangeira a formas mais facilmente reconhecíveis no contexto egípcio. Como por exemplo, a constelação de Aquário aparece como o deus Hapy a verter as águas da inundação em cima de um peixe, que corresponderia à sua estrela principal α PsA Fomalhaut. 

Detalhes do Zodíaco de Dendera |  Christian Décamps, Musée du Louvre

 

Cláudia Barros é licenciada em Arqueologia pela Universidade do Minho (2018). Em 2022 concluiu o Mestrado, na mesma área e instituição, com a dissertação “O Olhar de Gomes Eanes de Zurara sobre o Norte de Marrocos: estudo da paisagem de Alcácer Ceguer (Ksar Sghir)”.

Atualmente é colaboradora das revistas Egiptología 2.0 (Barcelona) e El Aldabón – Gaceta Interna del Museo Nacional de las Culturas del Mundo (México), e tradutora da Ancient History Encyclopedia, especialmente no âmbito da Assirologia e Egiptologia, a sua área de estudo e eleição.

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