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Glossário: Amuletos

Um amuleto trata-se de um talismã, com conjuros, encantamentos ou símbolos inscritos que protege o seu portador face a qualquer mal. Os antigos egípcios acreditavam que os amuletos podiam melhorar ou restaurar a saúde, proporcionar boa sorte, proteger e também servir como substituto de algum órgão ou membro.

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Amuleto sob a forma de escar,avelho de Hatnefer (Império Novo, c. 1492–1473 a.C.). The Metropolitan Museum of Art
 
 
Wadjet (Olho de Hórus/Rá):protegia o seu dono de todo e qualquer mal recorrendo aos poderes do deus. Este tipo de amuleto encontrava-se em qualquer parte do corpo de uma múmia, entre as vendas que a envolviam. A partir do Império Novo era habitual colocar uma capa de cera ou metal decoradas com o wadjet na zona onde era feita a incisão para retirar as vísceras do cadáver.
 
Pilar Djed:enquanto símbolo de Osíris, foi interpretado como uma representação da sua coluna vertebral. Significa ‘resistência’ ou ‘estabilidade’. No capítulo 155 do Livro dos Mortos há uma referência a este. Por norma encontrava-se sobre o peito ou a garganta da múmia. A maioria dos pilares djed era elaborada em faiança ou lápis lazuli. A partir do Império Novo começou a associar-se ao amuleto tjet, o Nó de Ísis.
 
Wadj:outro amuleto associado ao deus Osíris, era de cor verde e tinha a forma de um talo de papiro. Este é símbolo do renascimento e a regeneração, daí a associação com a cor verde e o simbolismo com Osíris.
 
Tyet (Nó de Ísis):simboliza a proteção proporcionada pelo sangue da deusa Ísis, sendo por esta razão feito com materiais de cor vermelha. Podia ainda ser associado à fertilidade e renascimento.
 
Amuletos em forma de escaravelho: introduzidos durante o Império Médio, protegiam o coração do defunto e, em casos em que o órgão tivesse sido destruído, substituíam-no. As bases destes amuletos possuíam na base o conjuro 30 do Livro dos Mortos:
“Meu coração ib chega a mim graças à minha Mãe celeste. Meu Coração hati chega da minha vida sobre a Terra. Que não se digam falsos testemunhos contra mim! Que os juízes divinos não me rejeitem! Que sejam corretos os meus testemunhos! Da minha conduta na Terra perante o Vigilante da Balança e o divino Senhor do Amenti!” (1).
Peseshkef: este talismã deriva da faca pesesh-kef (ferramenta utilizada no ritual da “Abertura da Boca”) e era habitualmente feito de obsidiana, basalto, serpentina e esteatito. Estando associado ao ritual da “Abertura da Boca” era possível que fosse visto como algo que poderia facilitar a utilização de todos os sentidos do defunto no Além, uma vez que a pesesh-kef era usada para limpar o mucus à volta da boca do recém nascido para que este pudesse comer e respirar.
 
Wrs: utilizado para amparar a cabeça do defunto, já que esta era um dos membros mais importantes para a ressurreição. Normalmente encontramos este amuleto sob a cabeça da múmia, feito de hematite. Escrito neste objeto surge, muitas vezes, o feitiço 232 dos Textos dos Sarcófagos:
“Tu que estás doente e postrado, olha como o teu corpo se levanta; a tua cabeça está erguida e observa o Horizonte; (…). Agora podes vencer os obstáculos, graças aos benefícios que te deram os deuses… Aqui vês como Ptah vence os teus inimigos, seguindo as ordens do julgamento (…). Depois das matanças ser-te-á devolvida a tua cabeça. Deves saber que a tua cabeça será salva! E jamais te será roubada!” (2)
Hipócefalo: amuleto de forma circular também colocado sob a cabeça do morto. Podemos vê-lo decorado com imagens de deuses como Amon-Rá, Ísis, Neftis, Thot, Rá, Hórus e os seus quatro filhos (Imset, Hapy, Duamutef, Kebehsenuf), e com o conjuro 162 do Livro dos Mortos:
“Faz com que o calor da vida apareça debaixo da minha cabeça!” (3)
Ankh: talvez um dos amuletos mais conhecidos do Antigo Egipto. Representa o símbolo hieroglífico da ‘vida’. Era frequentemente utilizado nos enterramentos, mas também em decoração de relevos e pinturas.  
 
Amuletos em forma de lótus: símbolo da ressurreição e do renascimento. O lótus azul sai da água quando o Sol surge no horizonte; quando este atinge o seu zenit a flor abre-se; e quando a noite chega, fecha as suas pétalas e esconde-se debaixo de água, até ao próximo amanhecer. É típico ver o deus Nefertum com um lótus que emerge da sua cabeça, como se renascesse. 
 
Amuletos em forma de leão: símbolo da força.
 
 
 
Amuleto sob a forma de Pilar Djed (III Período Intermédio, 1086–30 a.C.). The Metropolitan Museum of Art

Notas

(1) Excerto retirado de: Ikram, S. (2022). Muerte y enterramiento en el Antiguo Egipto. (I. A. Blanco, Trad.) Córdoba: Almuzara, Colección Nun. Tradução Cláudia Barros, pág. 123.

(2) Excerto retirado de: Ikram, S. (2022). Muerte y enterramiento en el Antiguo Egipto. (I. A. Blanco, Trad.) Córdoba: Almuzara, Colección Nun. Tradução Cláudia Barros, pág. 124.

(3) Excerto retirado de: Ikram, S. (2022). Muerte y enterramiento en el Antiguo Egipto. (I. A. Blanco, Trad.) Córdoba: Almuzara, Colección Nun. Tradução Cláudia Barros, pág. 125.

Cláudia Barros é licenciada em Arqueologia pela Universidade do Minho (2018). Em 2022 concluiu o Mestrado, na mesma área e instituição, com a dissertação “O Olhar de Gomes Eanes de Zurara sobre o Norte de Marrocos: estudo da paisagem de Alcácer Ceguer (Ksar Sghir)”.

Atualmente é colaboradora das revistas Egiptología 2.0 (Barcelona) e El Aldabón – Gaceta Interna del Museo Nacional de las Culturas del Mundo (México), e tradutora da Ancient History Encyclopedia, especialmente no âmbito da Assirologia e Egiptologia, a sua área de estudo e eleição.

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